Greve de fome de Glauber completa 8 dias e mobiliza apoios
Escrito por Agência DM3 em 16/04/2025
Há mais de 180 horas sem se nutrir, a greve de miséria do deputado federalista Glauber Braga (Psol/RJ) tem mobilizado ministros do governo, deputados, lideranças populares, artistas e intelectuais nos oito dias em que está acampado no plenário da Câmara dos Deputados. O protesto começou depois o Parecer de Moral recomendar a cassação do procuração de Braga.
“Essa noite senti mais o sismo emocional. Dormi pouco, tapume de quatro horas. Acordei, pensei bastante e me sinto poderoso novamente. Não vou desistir”, informou o deputado, em nota, nesta quarta-feira (16).
O parlamentar está sem falar com a prelo para poupar virilidade, tem ingerido somente bebidas isotônicas e tem saído para tomar banho de sol e para ser analisado por médico duas vezes ao dia. O deputado perdeu mais de quatro quilos nesses oito dias.
“Ontem teve cefaleia frontal [dor de cabeça] ligeiro que cedeu sem uso de analgésico, um mal-estar gastrointestinal, sem maiores consequências, e dor nas costas”, disse o médico Antônio Alves.
Glauber responde por quebra de decoro por agredir um militante de extrema-direita que ofendeu a mãe dele nos corredores do parlamento. Doente, a mãe do parlamentar faleceu menos de um mês depois o incidente.
Apoiadores consideram a pena desproporcional, lembram que não há precedentes na Câmara de perda de procuração por esse tipo de conduta, e afirmam que decisão é resultado de perseguição política pela denúncia que faz do orçamento secreto.
Comportamento no Parecer
O deputado João Leão (PP-BA) – que votou pela cassação de Glauber no Parecer de Moral – afirmou à Filial Brasil que, antes, defendia uma suspensão de seis meses do procuração do parlamentar, mas que o comportamento dele no Parecer de Moral mudou o cenário.
“Ele está sendo cassado pelo comportamento dele no Parecer de Moral. Ele cavou a própria cova. Ele chamou o relator [deputado Paulo Magalhães (PSD/BA)] e o ex-presidente da Câmara [Arthur Lira (PP/AL)] de ladrões. Ele não tem condições de continuar porque não respeita os pares”, afirmou o deputado, acrescentando que vota novamente pela cassação se o caso for ao Plenário da Câmara.
O deputado do Psol acusa Lira e Maralhães de articularem sua cassação pelas denúncias que ele faz sobre o orçamento secreto. Ambos negam e Lira promete processar Glauber se ele não provar as acusações.
Estratégia
O Psol tem até a próxima terça-feira (22) para recorrer à Percentagem de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. O partido discute qual a melhor estratégia para o recurso.
A deputada Sâmia Bonfim (Psol/SP), que é esposa de Glauber, afirmou que, por enquanto, não há contrato com os líderes para volver à cassação.
“Estamos avaliando a melhor estratégia de contrato com as respostas que a gente tiver dos líderes do centrão e de outros partidos. Podemos fazer uma peça de 900 páginas que tenha todos os elementos jurídicos e políticos para nos ajudar a recorrer ao STF. Ou podemos fazer uma peça enxuta a depende do que se consegue erigir contrato”, detalhou.
Sâmia diz que será preciso enfrentar o “longo feriado” até a próxima sessão da CCJ e diz que os apoios que recebem têm oferecido força. “A solidariedade, a repercussão, as visitas. Isso tem sido importante para tirar o esvaziamento da semana da Câmara porque não teve sessão presencial”, concluiu.
Apoios
Uma vigília foi montada nessa terça-feira (15) em frente à Câmara para concordar Glauber e reclamar contra o PL da Anistia. A aposentada Laura Lima, dos coletivos Rede Lular e Borda Luta, disse que o objetivo é permanecer no sítio enquanto resistir o processo contra o deputado.
“O caso do Glauber afeta a democracia por conta da perseguição que ele vem sofrendo. Essa vigília é importante para mostrar nossa indignação e nossa solidariedade a Glauber e Sâmia, e a todos que enfrentam a extrema direita no Parlamento”, comentou.
O deputado do Psol tem recebido visitas e apoios inesperados, porquê do deputado do PL, Antônio Carlos Rodrigues (SP), do deputado Fausto Pinato (PP/SP) e do deputado Ribamar Antônio da Silva (PSD-SP).
Glauber também recebeu solidariedade de ministros, parlamentares, lideranças e movimentos populares, de artistas e militantes. Um requerimento com mais de 154 milénio assinaturas contra sua cassação circula na internet.
Sete ministros do governo Lula visitaram o parlamentar, entre eles a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffman, e o ministro da Secretaria de Informação Social (Secom), Sidônio Palmeira. Nessa terça-feira, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, e a dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, estiveram com Glauber no plenário do Parecer.
Na segunda-feira (14), foi feito um samba nas dependências da Câmara em suporte ao parlamentar. Ele também recebeu apoios de artistas porquê o esquina e compositor Chico Buarque.
Em epístola, o coletivo Emaús – que reúne lideranças religiosas, porquê Frei Betto e Leornado Boff – disse que Glauber está sendo perseguido por “enfrentar seus algozes”.
“Desejamos manifestar a você o nosso suporte e lhe expor o quanto é importante a sua pessoa neste momento que o Brasil vive e neste Congresso com tantos desafios”, escreveram lideranças cristãs em epístola a Glauber Braga.