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Expansão urbana preocupa indígenas em Brasília

Escrito por   em 17/04/2025

A resistência de indígenas contra a expansão urbanista do Setor Noroeste, superfície superior de Brasília, se deve aos riscos que os empreendimentos podem suscitar para os moradores das cinco aldeias da região.

Segundo o cacique Álvaro Tucano, uma das lideranças locais, o conflito entre policiais militares e indígenas ocorrido terça-feira (15) é mais uma modelo do desrespeito histórico praticado contra os povos originários do Brasil.

“Passam mais uma vez por cima de indígenas uma vez que se fôssemos invisíveis. Isso acontece desde a chegada de Pedro Álvares Cabral. Seja para a exploração de nossas riquezas, seja para especulação imobiliária”, disse à Sucursal Brasil a liderança indígena sítio, cacique Álvaro Tucano.


Brasília (DF), 16/04/2025 - Cacique Álvaro Tucano na aldeia Santuário dos Pajés, em área ocupada por indígenas no Noroeste. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Brasília (DF), 16/04/2025 - Cacique Álvaro Tucano na aldeia Santuário dos Pajés, em área ocupada por indígenas no Noroeste. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Cacique Álvaro Tucano diz que o sítio é habitado por indígenas antes mesmo da construção da capital federalista – Foto: Antonio Cruz/Sucursal Brasil

Ele lembra que o sítio é habitado por indígenas antes mesmo da construção da capital federalista. “Não somos nós os invasores. Nunca fomos e nunca seremos”, acrescentou.

A situação é bastante preocupante, segundo Álvaro Tucano. Ele diz que, por ser na capital do país, o caso representa um alerta sobre as muitas invasões de terras indígenas que têm ocorrido no país, “apesar dos avanços recentes que tivemos ao colocar uma indígena chefiando a Funai”, disse ele referindo-se à Instauração Pátrio do Índio, presidida por Joenia Wapichana.

“O Brasil está violando direitos assegurados pela Constituição e acordos internacionais dos quais ele é subscritor. Isso acontece não só cá em Brasília. Sempre aconteceu em diversas outras regiões do país. Veja o caso dos yanomami. E também o dos pataxó na Bahia; com os guarani kaingang no Paraná. Veja a violência praticada contra os indígenas em Mato Grosso do Sul”, citou a liderança indígena.

“O Brasil nunca terá psique limpa tendo sangue sujo em suas mãos”, acrescentou esta quarta-feira (16) .

Desocupação

Na terça-feira (15), PMs e indígenas entraram em confronto durante uma operação de desocupação de superfície pública localizada muito próxima às aldeias com integrantes de diversas etnias.

A desocupação da superfície em Brasília foi determinada pela desembargadora Kátia Balbino, da 6ª Turma do Tribunal Regional Federalista da 1ª Região. Na decisão, ela autorizou a Sucursal de Desenvolvimento do Região Federalista (Terracap), empresa pública voltada à gestão de terras no Região Federalista, no sentido de que tomasse “providências para coibir novas ocupações irregulares na região e dar ininterrupção nas obras de infraestrutura do setor”.


Brasília (DF), 16/04/2025 - Aldeia Santuário dos Pajés, em área ocupada por indígenas no Noroeste. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Brasília (DF), 16/04/2025 - Aldeia Santuário dos Pajés, em área ocupada por indígenas no Noroeste. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Povoação Santuário dos Pajés, em superfície ocupada por indígenas no Noroeste – Foto: Antonio Cruz/Sucursal Brasil

Proximidade perigosa

Em entrevista à Sucursal Brasil nesta quarta-feira (16), Álvaro Tucano destacou que a superfície em questão, localizada na Quadra 707, está muito próxima às aldeias. Essa expansão urbana, explica o cacique, prejudicará as comunidades indígenas que vivem a poucos metros dali.

“Seremos prejudicados por pretexto de ganância e de especulação imobiliária. Por isso, há muro de dois anos, alguns guajajara montaram acampamento nessa superfície que é uma espécie de fronteira de proteção de nossas aldeias”, explicou o cacique.

Álvaro Tucano vive na lugarejo Yepá Mahsã, um santuário voltado a atividades de pajés de diversas etnias. Ele explica que, das cinco principais aldeias da região, três já foram demarcadas: uma da etnia Kariri-Xocó, e uma Fulni-ô – além do santuário onde vive o povo Tucano.

Ele acrescenta que uma outra lugarejo, chamada de Bananal, ainda não foi demarcada apesar de subsistir antes mesmo da construção da capital do país.

Confronto

A liderança criticou a forma uma vez que a PM chegou ao sítio para satisfazer a regra de dissipar os muro de 20 indígenas que estavam ali. “Eu estava cá e de repente me deparei com policiais jogando bombas, agindo supra da lei e dos direitos humanos.”

Morando no sítio há 15 anos na lugarejo Teko Haw, Zé Guajajara também vê com preocupação a urbanização das áreas próximas às comunidades indígenas. “Isso colocará em risco nossas famílias. Ficaremos muito vulneráveis, exclusivamente para que empresas imobiliárias valorizem seus imóveis”, disse ele à Sucursal Brasil.


Brasília (DF), 16/04/2025 - Zé Guajajara da aldeia Guajajara, em área ocupada por indígenas no Noroeste. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Brasília (DF), 16/04/2025 - Zé Guajajara da aldeia Guajajara, em área ocupada por indígenas no Noroeste. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Zé Guajajara diz que a urbanização de áreas próximas às comunidades indígenas coloca as famílias em risco – Foto: Antonio Cruz/Sucursal Brasil

Guajajara foi um dos indígenas que protestaram contra a chegada da PM na terça-feira. “Eu estava cá com minha esposa, minha mãe e as crianças. De repente eles [PMs] chegaram já jogando bombas. Soltei portanto um alerta no nosso grupo de WhatsApp, e vieram outros [indígenas] para nos ajudar. Esse caso só reforça o quão importante é termos os limites de nossas áreas respeitados pelos não indígenas”, disse.

“Nós sempre deixamos muito simples que não queremos ocupar a [área da quadra] 707. Unicamente não queremos que ela seja ocupada por outros, para que não corramos riscos”, acrescentou Zé Guajajara.

Álvaro Tucano diz que são muitas as dificuldades de diálogo com o poder público. “Eu sou uma mando tribal e quero ser respeitado pelas autoridades brasileiras. Quem é mais brasílico do que eu? Eles têm de me ouvir. Não podem machucar meus filhos nem meu povo. Quando não há pacto, se impõe a força por meio de decisões unilaterais e violentas. Foi isso o que a PM fez cá.”

Obras de infraestrutura

Na decisão apresentada pela desembargadora, autorizando a ação de escora à Terracap, foi determinada a “proibição de novos ingressos de ocupantes indígenas na superfície [da quadra 707], além de prometer que se prossigam nas obras de infraestrutura locais”.

A Terracap, portanto, acionou a Polícia Militar para prometer que a superfície pública se mantivesse desocupada. Ao chegar no sítio, a PM tentou negociar com indígenas que estavam nas proximidades “de um barraco não residencial que deveria ser demolido”.

Foi estabelecido um prazo para o cumprimento voluntário, porém, não houve vitória no diálogo. Os manifestantes passaram a lançar pedras contra os policiais, impedindo a aproximação das equipes.

“Eles também estavam munidos de roda e flecha, mas não os utilizaram”, informou a PM que, diante da resistência, acionou o Batalhão de Choque e Cavalaria.

Segundo a PM, as equipes cumpriram a dissipação “com técnicas e equipamentos de controle de distúrbios civis”, mas, na sequência, os manifestantes teriam continuado a lançar pedras contra as forças de segurança.

De pacto com o superintendente do núcleo de fiscalização da Terracap, Flávio Mendes, trata-se de uma superfície de aproximadamente 4 hectares destinada a um “projeto urbanista”. Segundo ele, “alguns indígenas estavam começando a ocupar o sítio com duas barracas para caracterizar posse”.


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